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F-1: Barcelona em clima de definição.
Por Wagner Gonzalez
Começa hoje em Barcelona a segunda e última fase de testes para o início da temporada 2019 da F-1, a principal categoria do automobilismo mundial. O campeonato deste ano inicia dia 13 de março com o GP da Austrália nas ruas do Albert Park, em Melbourne, e marca a chegada de novos pneus, carros com novidades aerodinâmicas, pilotos em novos endereços, incluindo novatos e estreantes. Com tudo isso espera-se uma nova divisão de forças na luta pelas vitórias, ainda que Ferrari e Mercedes sigam como favoritas em consequência do maior poderio técnico-financeiro de ambas.
Como é de praxe, os testes pré-temporada ajudam a criar uma ideia do que deverá acontecer durante o ano, ideia que terá uma lapidação mais refinada no fim de semana de Melbourne. Partindo do que se viu na semana passada pode-se ter noções a serem consolidadas de hoje até sexta-feira e, caso isso se confirme, enxergar o que é mais provável para o grid do GP da Austrália.
Autor do melhor tempo da semana, Nico Hulkenberg mostrou que a Renault fez um bom trabalho de desenvolvimento na entressafra: os dois pilotos da equipe melhoraram seus tempos progressivamente durante os quatro dias de treinos. O alemão fechou a semana com a marca de 1’17”393, tempo registrado com o uso de pneus de composto C5, o mais macio e, portanto o mais aderente. Recém-chegado ao time francês, o australiano Daniel Ricciardo também treinou durante quatro dias e imitou seu companheiro de equipe ao registrar 1’17”785 na mesma sexta-feira e com o mesmo composto de pneus. A diferença de tempo ganha importância por Hulkenberg jamais ter conseguido um pódio na sua carreira e Ricciardo ter vencido sete GPs em seus tempos de Red Bull. Como a Renault não mostrou problemas de confiabilidade, o resultado de ambos é bastante auspicioso.
Surpreendente é o mínimo que se pode dizer do resultado de Alexander Albon na semana passada. Caso repita o segundo melhor tempo da semana passada – obtido com cerca de três décimos de vantagem sobre seu mais experiente companheiro de equipe, o russo Daniil Kvyat, terceiro mais rápido da semana -, o estreante anglo-tailandês embarcará para Melbourne envolto em grande pressão e curiosidade pois a equipe Toro Rosso não é tradicionalmente um time habituado a disputar as primeiras posições. O fato de usar mais peças desenvolvidas e fabricadas pela Red Bull – à qual é subordinada -, certamente contribuiu para tal destaque, assim como o capô do motor Honda, mais avantajado e que melhorar a refrigeração do V6 japonês.
A equipe Sauber, agora rebatizada Alfa Romeo Racing, vive situação semelhante e não estranhe de ver a organização baseada em Hinwill, Suíça, ser referida como equipe B da Ferrari. As manobras políticas que levaram à confirmação de Charles Leclerc como companheiro de Sebastian Vettel em Maranello encaixaram o finlandês Kimi Räikkönen na escuderia onde estreou na F-1 quase duas décadas atrás e o “Homem de Gêlo” não decepcionou seus novos-velhos empregadores. O resultado do italiano Antonio Giovinazzi (décimo primeiro na semana passada) sugere a primeira divisão clara entre primeiro e segundo piloto da temporada.
Tal qual a Renault, a Mercedes também se organizou para fazer seus dois pilotos treinarem durante os quatro dias, dividindo o carro disponível na semana passada. Isso destacou a resistência do equipamento anglo-alemão e o equilíbrio entre Valtteri Bottas (6o, 1’17”857) e Lewis Hamilton (7o, 1’17”977); o finlandês registrou sua marca com os pneus mais macios e o inglês com um composto mais denso (C4). Talvez mais do que o desenvolvimento dos flechas de prata será interessante acompanhar o desempenho de Bottas, que ainda vive sob a sombra de ser substituído a cada final de temporada.
Curiosamente, tal qual ocorreu na Mercedes, a diferença entre os dois pilotos da Ferrari, Charles Leclerc e Sebastian Vettel, foi bem semelhante (0”120 no time alemão e 0”115 no time italiano) em favor do jovem monegasco, teoricamente também segundo piloto: 1’18”046 contra 1’18”161. O que a Ferrari deve confirmar é o rendimento do chassi SF90 com pneus macios – Leclerc e Vettel praticamente só andaram com o composto médio C3 -. e a resistência do seu equipamento, aparentemente seu grande trunfo para 2019 .
Surpresa das surpresas, o espanhol Carlos Sainz Jr foi o segundo mais rápido no primeiro dia de testes, mas ao final da semana passada terminou em décimo segundo, duas posições atrás do estreante Lando Norris, inglês que conta com as graças da equipe, onde o brasileiro Gil De Ferran é o diretor esportivo. Sainz anda não demonstrou ser um piloto consistente, Norris foi derrotado por George Russel na F-2 em 2018 (onde era o grande favorito ao título) e a McLaren ainda luta para voltar ao lugar que os brasileiros a conhecem dos tempos de Emerson Fittipaldi e Ayrton Senna. Por tudo isso, seu desempenho até agora ainda está longe de ser um indicativo de suas chances. Ambos ainda não marcaram tempos com o composto C5, o que devem fazer esta semana.
Equipe pequena com ambições grandes, a Haas segue na toada norte-americana de apostar na continuidade e ao manter seus dois pilotos de 2017/8 é uma aposta de alto risco. O veloz e irregular Romain Grosjean e o rápido e arrojado Kevin Magnussen só andaram com pneus de composto C4, o que demonstra uma agenda de trabalho onde o acerto de classificação foi preterido por outro, mais focado em ritmo de corrida. O brasileiro Pietro Fittipaldi (19º, 1’19”249) testou por dois dias e deverá estar de plantão esta semana; o neto de Emerson poderá capitalizar essa oportunidade graças à sua capacidade, apoio da telefônica Claro e o apelo pela dupla cidadania norte-americana.
Terceira força da categoria há algumas temporadas, a Red Bull vive um período de adaptação à Honda, que entrou no lugar da Renault, parceiro de longa data e cuja relação com o time dos energéticos se desgastou marcadamente nos últimos anos. O francês Pierre Gasly (promovido da Toro Rosso para preencher a vaga criada com a partida de Daniel Ricciardo) e Max Verstappen deverão conseguir esta semana melhores resultados que o 15o e o 16otempos, respectivamente 1’18”780 (com pneus C3) e 1’18”787 (pneus C4). Tal qual o entrosamento com a Honda, a disputa entre Gasly e Verstappen será uma fonte considerável de notícias durante o ano.
A decadência econômica de Vijay Mallya refletiu-se no desenvolvimento do novo carro da Racing Point, nome adotado pelo consórcio liderado por Lawrence Stroll ao assumir o legado do indiano. Sem garantias que o time continuaria vivo muitos técnicos e engenheiros debandaram para outras equipes, como o engenheiro brasileiro Marcos Lameirão, que agora trabalha na Mercedes. As poucas voltas completadas por Lance Stroll (18º, 1’19”664, C2) e Sérgio Pérez (19o, 1’19”944) mostram claramente as consequências dessa mudança ainda não consolidada na prática.
Situação bem mais clara, e ainda mais decepcionante, vive a equipe Williams. Outrora um dos destinos mais cobiçados por pilotos ávidos por vitórias e títulos, o time fundado por Sir Frank Williams vive uma fase onde fica difícil esperar-se bons resultados. Na semana passada a equipe só colocou seu carro na pista em dois dos quatro dias de treino, o que explica o resultado pífio de George Russell (20o, 1’20”997) e Robert Kubica (21o, 1’21”542). O resultado da Williams na primeira metade da temporada determinará a permanência de Paddy Lowe na direção técnica do time há anos gerenciado por Claire Williams, a filha de Frank.
Pneus, carros e motores
A Pirelli, fornecedora oficial da categoria, adotou nova nomenclatura para definir seus compostos para pista seca. Por composto entende-se a borracha aplicada na banda de rodagem; dentre os cinco disponibilizados este ano o C1, é o que tem consiatência mais dura e privilegia durabilidade em favor da aderência, enquanto o C5, o mais macio, produz efeito contrário. Cada composto tem uma faixa específica de funcionamento, índice que determina o melhor aproveitamento desse equipamento. O aquecimento dos pneus é um item crítico para se obter o melhor desempenho e por isso as equipes usam cobertores térmicos para pré-aquecer esses elementos. Na expectativa de reduzir o risco de esfarelamento da banda de rodagem os pneus traseiros serão pré-aquecidos a 80o C, vinte graus a menos que os dianteiros, medida que equilibra o aquecimento dinâmico das unidades montadas nos dois eixos.
A principal mudança técnica deste ano são as dimensões das asas dianteira e traseira dos carros: As primeiras ocupam maior área, porém tem menos elementos e as últimas cresceram e estão mais altas. O objetivo disso foi criar mais facilidades de ultrapassagem, algo a ser comprovado. Os painéis longitudinais das asas traseiras receberão luzes de LED obrigatoriamente acionadas quando o carro estiver equipado com pneus de chuva. Os apêndices laterais, os chamados bardge boards, também foram reduzidos. A capacidade do tanque de combustível foi aumentada de 105 para 110 quilos: a quantidade extra possibilitaria, segundo a FIA (Federação Internacional do Automóvel), um recurso para manter um ritmo de corrida mais acentuado e facilitar a disputa de posições.
Na sequência de implementações visando a segurança dos pilotos, a obrigatoriedade de vestir luvas biométricas dá continuidade ao uso do Hans (suporte que restringe o movimento do pescoço em caso de choque) e do Halo (arco de segurança montado em torno da abertura do cockpits para prevenir que destroços atinjam o capacete do piloto). As novas luvas são equipadas com sensores que transmitem instantaneamente a pulsação e a quantidade de oxigênio no sangue do piloto. Essas informações facilitam o trabalho dos médicos no caso de acidentes.
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