E agora, Tião?

Por Wagner Gonzalez.

Ferrari despacha Räikkönen para Sauber e acolhe Leclerc.

Chegou ao fim a novela “Com quem Vettel vai dividir a Scuderia”, seriado iniciado há meses e encerrado esta manhã com a confirmação que o finlandês Kimi disputará as duas próximas temporada pela equipe Alfa Romeo Sauber e o monegasco Charles como companheiro de equipe do alemão Vettel. As implicações dessa notícia vão muito além da formação dessas equipes para 2019: envolve o investimento da marca de Milão na F-1 pelo futuro próximo, aumenta a influência política de Maranello numa época em que os times satélites estão sob forte discussão e reforça a ligação dos italianos com Jean Todt, que cumpre seu último mandato como dirigente do esporte.

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A formação da Ferrari 2019 foi ditada pelo finado Sergio Marchionne, que sucumbiu a um câncer quando estava no auge de sua carreira como executivo maior do grupo FCA. Visionário e autoritário, foi esse ítalo-canadense gerou o renascimento da Alfa Romeo como marca de prestígio, processo ainda relativamente distante da consolidação imaginada pelo seu criador. Seu desaparecimento inesperado colocou em risco várias fases dessa operação e deixou no ar qual seria a próxima cartada nas negociações para renovar o contrato de participação da Scuderia na F-1.

Coincidentemente ou não Jean Todt declarou recentemente que recebeu Chase Carey e Marchionne para um jantar no escritório da FIA em Genebra, território neutro por natureza. O francês comentou que na ocasião as arestas para manter a Ferrari na F-1 foram aparadas e mencionou sua admiração pelo executivo, com quem conviveu nos tempos em que dirigiu a casa de Maranello. Bom político, Todt enalteceu as qualidades de Louis Camelleri, nome que ocupa seu antigo cargo e que, assim como Maurizio Arrivabene, é oriundo da Philip Morris, a fabricante dos cigarros que há décadas garantem a maior porção do orçamento do time. Cenário perfeito para uma tomada de poder quando a próxima crise desembarcar em Maranello.

O poder de Todt foi fundamental para que Arrivabene e Camelleri concordassem em abrir mão de Kimi – de quem ambos são admiradores -, e abrir as portas para Charles. Por tabela essa vitória é capitalizada também pelo seu filho Nicholas, empresário do jovem piloto e de vários outros, entre eles o brasileiro Caio Collet.

A transferência de Räikkönen para a Sauber, equipe que o revelou para a F-1 em 2001, é uma solução longe de surpreendente. O que impacta é a duração do acordo (dois anos) num período onde a influência política das equipes vai ditar os caminhos a seguir para renovar o acordo de Concórdia (documento que rege a repartição financeira da categoria) e do novo regulamento técnico. Equipes menores se rebelam contra a influência dos grandes construtores, em especial Ferrari e Mercedes, que tentam diluir essas reclamações lançando factoides como a inscrição de um terceiro carro.

Por tudo isso a definição do futuro de dois pilotos nunca foi tão abrangente. Mais do que manobras de coxia, no caso os interesses políticos de Jean Todt, e de influência política na categoria, Leclerc tirando Kimi Räikkönen da Ferrari também deixa Tião Vettel ciente que vai provar do mesmo remédio que ele ministrou a Mark Webber e Daniel Ricciardo no passado. Será interessante ver como a terapia vai funcionar desta vez.

 

 

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